Hoje vou desenganar o nosso amor.
Não quero conferir um sabor herbáceo,
ao líquido a que darei cor,
para que tenha um longo início.
Quero pisar o fruto da nossa paixão,
aromatizá-lo em cascos de madeira,
na química orgânica da fermentação...
E esperar sentado nesta cadeira!
Deixar todo o açúcar se transformar,
no álcool que teu corpo vai conter,
taninos que lentamente hei-de saborear,
quando em meu copo te verter.
Teu sabor quero perpetuar,
em garrafa especial e numerada,
para que um dia possa mostrar,
a forma como foste amada.
Apreciar a tua subtil estrutura,
prolongar o fim de boca,
na degustação mais pura,
que me afaga a garganta rouca.
Hoje quero beber-te,
para em meu sangue fluíres...